Fazer controle de embreagem em carro automatizado pode gerar prejuízo no bolso
Numa subida, ao 'segurar' um veículo com câmbio automatizado, usando o acelerador, muitos motoristas não percebem que estão fazendo controle de embreagem, o que desgasta o sistema
O câmbio automatizado foi desenvolvido por ser mais barato do que o automático e proporcionar o conforto de não trocar as marchas manualmente. Porém, o sistema tem embreagem e exige cuidados para não haver desgaste prematuro.
Na teoria, a manutenção regular de um câmbio automatizado deveria ser mais econômica que a de um câmbio manual. A razão é simples: como o sistema é gerenciado por um “cérebro” eletrônico e executado por “robôs”, ele está livre dos vícios dos motoristas de carne e osso, como repousar as mãos sobre a alavanca de câmbio ou deixar a embreagem acionada (ou parcialmente acionada) enquanto o carro está parado. Mas o sistema automatizado não consegue corrigir um hábito antigo, o controle de embreagem feito por tempo demasiado, o que ocasiona o desgaste dos componentes de atrito da embreagem.
Por isso, na prática, os automatizados acabam indo com mais frequência à oficina para manutenção da embreagem que os manuais. De acordo com o engenheiro mecânico Cláudio Castro, membro da Comissão Técnica de Transmissão da SAE Brasil, a culpa disso não é propriamente do sistema, mas dos motoristas, que muitas vezes desconhecem como o câmbio automatizado funciona. A situação que mais desgasta os componentes da embreagem do automatizado é quando o motorista “segura” o veículo no acelerador por muito tempo sem saber que, por mais que ali não haja um pedal de embreagem, para manter o carro estático o sistema está fazendo o controle de embregem.
“Já fui a uma concessionária e pedi para o vendedor me explicar como funciona o câmbio automatizado e ele me disse que era como um automático”, conta o engenheiro. Só que, enquanto num automático esta prática não gera desgaste algum, no automatizado “segurar” o carro pelo acelerador durante muito tempo ocasiona o superaquecimento e o consequente desgaste dos componentes de atrito da embreagem (platô e disco). Segundo Castro, por esse motivo os automatizados têm um sistema de inteligência para alertar os motoristas, ou com o acendimento de uma luz espia no painel ou um bipe, que o sistema está aquecendo demais. “Alguns sistemas chegam a abrir ou fechar totalmente a embreagem para o motorista perceber e tomar providência para preservá-la ”, afirma o engenheiro.
“Com o tempo e o uso do câmbio automatizado, alguns motoristas percebem que o sistema é diferente e conseguem corrigir este vício”, conclui Castro. De acordo com o especialista, o prejuízo é dobrado no câmbio automatizado de dupla embreagem, que também exige uma manutenção mais criteriosa, mais especializada, já que se faz necessária uma série de ajustes para montá-la novamente no câmbio.
AUTOMÁTICOS x AUTOMATIZADOS
» O que têm em comum?
O único, mas fundamental, fato de não exigir que o motorista troque marchas ou acione a embreagem.
» O que têm de diferente?
Tudo. Enquanto no câmbio automático a transmissão da força do motor é intermediada pelo conversor de torque, no automatizado o movimento é mediado pela boa e velha embreagem. O motorista só não precisa passar as marchas porque, sob o comando de sensores e uma central eletrônica, o acionamento da embreagem e as trocas de marchas são feitos por atuadores hidráulicos (robôs).